Partindo
da necessidade de fazer alguma coisa, escrevo. Escrevo não só pra me ocupar,
matar o tempo, mas sim pra descobrir alguma coisa. E essa coisa pode ser
qualquer coisa mesmo, sem restrições, o importante é escrever pra depois
entender. Não quero aqui me comprometer, quero desenvolver. Escrever é
desenvolvimento; é a busca por algo que está oculto e que precisa, no texto,
ser revelado, mostrado graficamente em palavras, frases. Então, tudo é um
processo, que corre ligeiro, às vezes, e que também rasteja, às vezes. Tudo
depende do espaço, do momento, do ambiente e da ideia. Se tenho ideia clara, o
desenvolvimento, o processo corre que nem o Bolt. Se não, se a ideia que tenho
é abstrata, nebulosa, a sua concretização é mais demorada, custosa. E isso,
claro, sofre influência, do espaço aonde me ponho a escrever. Se me encontro
numa biblioteca, por exemplo, o trabalho é mais focado; se estou no trabalho,
em um dos momentos de ociosidade, as interferências atrapalham, faz parte, o
marasmo não dura para sempre. Agora, outro ponto, para eu começar a fazer tudo
isso, o momento tem que ser propício. E quando digo momento me refiro a duas
coisas importantes: a vida física e a vida psíquica. Vida física é a vida em
si, os contatos que a gente faz diariamente, as notícias e relatos que vemos,
ouvimos e lemos por aí. Já vida psíquica é como eu entendo, absorvo essas
coisas do entorno; é como penso e ajo diante dessas coisas. Então, sendo assim,
momento é disposição; é o querer escrever com alguma coisa em mente, ou não.
Continuando, para escrever, um suporte se faz necessário. Isso é o espaço. Meu
espaço é um caderninho de brochura, geralmente. Nele boto, rascunho todos os
meus textos em prosa, como este que estou escrevendo agora. De lá, passo-o para
o Word, onde faço uns ajustes e tal, se necessário, daí só depois o publico
aqui no blog. Percebeu? É tudo um processo. Um processo de escrever, escrever e
reescrever. Já os poemas que eu arrisco fazer, se você me lê há algum tempo, já
sabe aonde eu os faço, se não, clique aqui e descubra já. Viu só? Escrever, pra
mim, é um passatempo divertido, é um hobby, não é um ofício oficial remunerado,
é um lazer, uma ocupação pra manter a minha mente funcionando bem. Espero
continuar assim.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
ISTO NÃO QUER DIZER NADA
Se não estamos bem,
Dizemos muito.
Se bem,
Pouco.
Mas, como o mundo anda estranho,
Parecendo assim meio torto,
Se estamos mal,
Não dizemos nada.
Se bem,
Dizemos tudo.
E mais um pouco.
Neste mundo invertido,
O mais divertido
É dizer tudo aquilo
Que ninguém quer
Ou gostaria de saber.
É como se,
Ao dizer,
Tudo aquilo que sai,
Preenchesse um nada inexistente.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
DAS TRÍADES
Pergunte à Eco
Quem é você e
Você ouvirá: eu.
Pergunte também
Quem sou eu e
Você ouvirá: ele.
Pergunte, por fim,
Quem é a gente e
Você ouvirá: nós.
Pergunte sempre
E você não será Narciso.quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
MUDANÇAS ECONÔMICAS
Compras à vista
Pagas a prazo
Se você tem dinheiro,
Guarde-o,
Pois
Irá gastá-lo,
E muito!
Para isso não acontecer,
Não se esqueça:
Não dê gorjeta,
Muito menos aumento;
Em época de crise,
O que dá lucro é
Ser subserviente.
Taí de prova o atual
presidente...
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
PEQUENEZ
quão pequena é
a vida humana
comparada ao Universo
quão irrisória é
os problemas pessoais
diante da Morte
logo atrás
quão diminuta é
a felicidade falsa
encontrada nas telas de celular caro
quão insignificante é
tudo isso
que vivemos até aqui
a Humanidade perece
a cada dia
enquanto
um homem só
apenas cobiça
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
MEDUSA NÃO USA WI-FI
Passava o dia inteiro de olho nele, querendo saber tudo a seu respeito. Se tinha dinheiro, se era popular, se era bom-partido. Até que um dia, enfim, ele a olhou de volta. Celular dela se desligou e nunca mais se deixou ligar. Ela não era 4G.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
ATA MEIO DADAÍSTA DE FIM DE ANO
a quem interessar possa:
dias difíceis virão
não é joça
é a mais pura constatação
se este ano foi horrível,
o próximo será pior
nem a Dior
tampouco o novilho
se salvará
alvará
faça a sua parte,
pois eu farei a minha
pra amenizar
Oxalá!
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
RATO MORTO
Passeando a pé pela rua,
Eu o vejo lá estatelado,
Parecendo panqueca, imprensado,
Criatura descomunal está nua.
Perdera tudo que fora sua,
Só o rabo se faz notado,
Bucho, crânio esmagado
Em noite escura, noite de lua.
Vejo suas tripas ao relento;
Não vejo ninguém em sofrimento;
Só o nojo paira sobre o asfalto...
Rato morto não causa comoção.
Restos desse tipo não tocam o coração.
Sigo reto. Pode ser
armação.
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
LIXO VIVO
Descartada por quase todos
Que nela vivem,
A cidade,
Grande cidade,
Agoniza sozinha na sarjeta e
Enquanto uns e outros
Dizem defendê-la
(Salve! Salve!),
Na culatra,
O negócio,
Mau negócio,
Anda torto, capenga,
Dando lucro àqueles que
Nela dizem morar,
Ocupar.
A cidade,
Grande cidade,
Só reflete os que nela vivem, sobrevivem.
Se ela está suja, imunda e feia é por que
Nela sobra gente altiva
E falta gente digna.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
GORDO, VELHO E BROCHA
O pau já não vê mais,
A barriga bloqueia a visão.
Se duro fica,
Já nem mais sente,
Ereção é coisa ausente.
Prazer sente mesmo é quando come.
Seja um petisco, um crustáceo vivo
Ou uma bandeja cheia de salgadinhos!
Por passar de certa idade,
Nem mais se importa com isso ou aquilo outro,
Quer mais é beber, se empanturrar
Até o cinto da calça estourar!
Ser gordo não é problema,
Problema é querer ficar magro.
Porém, disso, não sofre, é enfado.
Agora, do pau não levantar...
No início, sofreu,
Mas, se viu sozinho,
Então, se esqueceu.
Ser homem, hoje em dia, não é mais isso.
Ser homem, atualmente, é ter muito di$$o, muito daquilo...
E de tudo ele tem.
“Não preciso de ninguém!”, ele diz.
Ele é desses que você vê na rua.
Você o vê e o vê feliz,
Mas quem em sã é assim sendo
Gordo, velho e brocha?sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
EMENDAS DA MEIA-NOITE
Do calvário alegam vir
Pra por em ordem um país,
Mas, o que se vê, faz rir
Pra não chorar chafariz.
Tudo parece por um triz;
Todos eles temem cair.
Afinal, tem gente aí que se faz juiz.
Porém, desencanto morno, vão ruir...
Na calada da noite fazem acordos,
Delações premiadas ganham fórum;
Tudo é encenado em grandes auditoriums!
O que se vê só se vê cacos, quebrados.
O verdadeiro espetáculo não é arbitrário!
Lá, o jogo é jogado sem
estagiário.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
VERMES
Vejo-os ao meu redor
Em estado vil de decomposição,
Criaturas peçonhentas em ação,
Fazendo o que fazem de melhor:
Extinguindo a carne até o pó,
Impregnando o ar sem consideração,
Apenas o fedor há em elevação.
Condenado estou e na pior.
Danado assim sem me mexer,
Penso no que fiz pra acabar ali
E não consigo entender o exercer
Que é agir livre até aqui
Pra acabar assim sem esperança
Enquanto os sem cabeça
enchem a pança.
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
AQUILO MARAVILHOSO
Se pequeno,
Acham bonitinho,
Uma gracinha
Até o verem erigir.
Se grande,
Adoram,
Fazem fila,
Mas incomoda um pouco,
Dizem as sinceras feministas.
No mais, o que importa
É a resistência do bicho.
Se pouca,
Ficam chateadas,
Fingem compreender;
Não satisfazer
Não é poder.
Se muita,
Nem tem o que dizer,
Só sorrisos,
Pedem bis por mais foder.
terça-feira, 29 de novembro de 2016
ATUALIDADES DE SEMPRE
sobre a sociedade de hoje:
não há sociedade
só sociedades
o Amanhã nunca vem
até você ir atrás dele
e pegá-lo com os dentes
comer faz bem,
foder também;
a vida só faz sentido
quando você não tem
isso ou aquilo
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
PRESTE ATENÇÃO AGORA
pare e pense em
um segundo
e descobrirá que
um segundo
não é suficiente
...
“ouça com atenção”,
dizem pra você
quando querem que
você aprenda
“você não prestou atenção”,
dizem pra você
quando você questiona
o que você aprendeu
atenção —
palavra empregada
sem atenção
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
A VERDADE NUA E CRUA
visível sempre está
para quem quer ver
basta não relevar
e A verá toda nua
a Verdade não se esconde,
encobrem-Na
incomoda,
dói e
fere a fogo
tem um gosto
amargo
para quem A oculta
tem gosto de
açúcar
para quem A revela
Verdade plena,
Verdades secretas;
é tudo Verdade no
País dos Banguelas!
e enquanto Ela tá bem ali
à sua frente,
se mostrando, se entregando,
você aí fica se enganando,
visualizando e dando likes
na Mentira instantânea,
gorda de filtros bacanas.
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
ÁGUA PODRE
Das arestas de grandes rios,
Que hoje margeiam megacidades,
A podridão abunda em quantidade,
Alastrando-se fedorenta e sem brio.
Ao seu redor, nada brota; só ruindade
Se vê de longe, feito um fastio,
Que segue serpenteando a verdade
Triste de uma terra febril.
A água podre fede a mijo,
Bile e a secreção anal.
Quem por ela passa, passa mal.
Imagine para quem vive ali.
Incrível! Veja! Há gente ali:
Em meio à água podre, esconderijo.
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
TÔ VELHO
Tô
velho. E isso implica pensar mais em coisas que normalmente eu não me dedicava
a pensar com frequência. Me explico: saúde. Antes, admito, eu não tinha essa
dedicação de agora em prezar, acima de tudo, a minha própria saúde. E de saúde
aqui não só me refiro à física, mas à mental também. Parece que, ao ficar mais
velho, as dores e os probleminhas físicos surgem e permanecem com mais
facilidade e teimosia. Uma dorzinha aqui hoje não é mais só mais um mau jeito
de ontem. Qualquer coisinha aí que aparece pode ser uma coisona que permanece. Cuidar
mais de si mesmo se tornou uma coisa necessária, coisa de vida ou morte até.
Pareço aqui um exagerado, porém, é a mais pura verdade empírica. Ficar mais
velho, e bem, requer mais e mais cuidados. A minha alimentação, por exemplo,
deu uma guinada drástica ao submundo descolado da alimentação saudável e
sustentável. A princípio, soa modinha dizer isso, mas se muitos aí a sua volta
já fazem isso e há muito tempo, você então, meu caro, tem que seguir o fluxo,
para não ficar pra trás cardíaco e incapaz. Cuidar da própria alimentação,
praticar atividades físicas com mais afinco e alimentar a mente com bons e
instigantes prazeres artísticos é a nova ordem mundial! Então, saia mais de
casa. Dê um rolezinho pelo próprio bairro. Leia mais. Ouça mais. Converse mais
com os amigos, com as pessoas ao seu redor. Desligue o celular. Pense positivo.
Em qualquer tempo, seja ele de crise ou não, é sempre bom fazer alguma coisa
que te faça bem sem prejudicar a si ou outrem. Eh, eu sei, tô velho. E a vida
me parece mais vida do que nunca. Comer bem faz parte da minha vida hoje. E sugiro
que isso faça parte da sua, que me lê, também. Coma alguma coisa diferente em
um dia da semana. Vá àquele restaurante que todos aí você vê indo. Experimente comer
bem e com prazer. Isso é possível, acredite. É engraçado eu dizer isso, mas,
poxa, ultimamente só o cheiro de comida boa me faz muito feliz! Sério mesmo. Hoje,
eu acho que a comida típica de cada cultura é a substância mais substancial da
felicidade de um povo, de uma nação, ou, se preferir, da própria humanidade. A redundância
aqui soa estranha, mas o diferente, o outro é bom e faz muito bem! Ficar mais
velho é sempre uma novidade.
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
sexta-feira, 7 de outubro de 2016
PAREIDOLIA
![]() |
Foto: NASA |
Ela vem e vem com força,
Antes que os pobres vão à forca.
Ela vem rasgando a torto e a direito,
Como se cavoucassem ninho de vespeiro.
Milhares caíram mortos a seus pés,
Com a Morte não tem revés.
Ela tem nome de homem;
Matthew a chamam os crédulos.
Passou pelo Haiti, Caribe e Flórida
E até hoje não se sabe a resposta:
Será ela um monstro ou o capeta?
Criaturas vis se engalfinham nesse dilema
E se esquecem de ver a realidade:
A Natureza só está fazendo
a sua parte.
SUSSUARANA
Posava nua todo dia. Os vizinhos sempre a viam de
calcinha e toalha molhada pela janela escancarada da sala. No prédio, era a
mais falada, julgada e admirada. Seu apê vivia cheio de gente. Via-se com
frequência homens e mulheres, muitas mulheres, em seu recinto. Amizades
coloridas batiam ponto. Porém, um dia, ninguém a viu mais no condomínio. Sua
janela estava fechada há dias! Houve certa comoção e alívio por parte da geral,
quando o comunicado foi oficial:
“A Senhora Josefa de Aguiar Venâncio, do 7104, teve um
derrame e seu corpo será velado no Cemitério do Araça, dia 06 próximo, às 09h”.
Dona Josefa tinha 84 anos.
terça-feira, 4 de outubro de 2016
OS IDIOTAS
Vivemos
tempos difíceis. De uns anos pra cá, a coisa anda preta e mal falada. Sobreviver
custa caro e quem recebe salário não o vê durar até o fim do mês. Estamos em
crise, dizem. Estamos vivendo uma crise financeira (e política) sem
precedentes, afirmam. Porém, pior do que isso só mesmo a falta de respeito. Explico:
você aí, certamente, anda vivendo no limite, no limite do mau humor. Se você aí
anda calmo, parabéns, você faz parte da exceção que vive bem fora da tal
recessão. Mas, se você aí faz parte da grande maioria que vive numa dificuldade
a cada esquina, sabe bem que os ânimos estão à flor da pele. Se você aí não
está irritado com a situação atual, conhece alguém que está. Há muita gente exaltada
na rua e em casa. Há muita gente enfezada com tudo e todos até alta madrugada. E
não dá pra negar que isso faz a gente penar. É um verdadeiro martírio lidar com
esse tipo de gente; gente que nem respeita a si e nem quem está à sua frente. Rugir
um para o outro se tornou prática comum. E nem de bruxismo estamos aqui
falando. Nós aqui estamos tentando pôr às claras que a humanidade está em
desgraça. Somos uns desgraçados! Se antes o que nos atingia era uma marolinha
de picuinhas, a onda de agora nos atinge feito tsunami. Estamos prestes a
vivenciar um colapso mortal (moral?) em cidadela, seja você aí coxinha murcha
empapada de óleo velho ou mortadela vencida. Vivemos em meio a um apocalipse
zumbi! Estamos rodeados de smart-zombis que
só olham pras pequeninas telas com o intuito de se divertir. E, enquanto esses
aí ficam deslumbrados com as besteiras seguidas que veem, o mundo real ao redor
se desintegra e some, não deixando rastro nem migalhas para quem está com fome.
Na moral? Vivemos em um mundo de idiotas. E cada vez mais eles se revelam, seja
ao lado de casa, dentro da própria família e até mesmo na repartição, na
empresa do ganha-pão! Tem muita gente idiota por aí. Para identificá-las é
fácil. Basta reparar bem nas pessoas que dizem que isto, não aquilo, é
melhor para todos, sem exceção. Gente assim se acha melhor do que você, que
pensa diferente e, apesar dela dizer que está sempre aberta ao diálogo, na
verdade não está. Gente assim tem muita aí na praça hoje em dia. Essas se
travestem de defensoras da moral, dos bons costumes, da família e da gramática
normativa! Essas pensam que só é mais valia investir em certos grupos sociais e
segregam os restantes por demais. Não há consenso humanitário entre elas. Aliás,
notam-se apenas resquícios do que já fora humano nessas criaturas... O que
estamos vendo é a regressão do bicho homem, infelizmente.
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
IDEOLOGIA DE GÊNERO
Enquanto muitos perdem seu tempo criticando o “põe e
tira saia”, graúdos de idade avançada armam arapucas assassinas para os
próximos 2, 4 e 6 anos. Pai que é pai não anda ensinando nada! Mãe que é mãe tá
de papo-furado na escada. E assim a criança que esses aí dizem proteger e
zelar, fica a deus-dará vendo bobagens sem graça no WhatsApp da vida.
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
A MÃO DIVINA DO ESTADO LAICO
Moldo a ti
Como argila:
Pressionando,
Apertando,
Formando uma vida.
Faço isso porque posso,
Distorço,
Sem esperar de você
Alguma revolta óbvia.
Satisfaço meu ego burguês
Neste Estado de Direita,
Enquanto você aí discute futebol,
Novela e merenda.
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
À MARGEM DO CÓRREGO
Dobrou a esquina como se fosse gente fina, nariz
empinado e olhos semicerrados. Andou a calçada toda sem olhar pros lados, o
horizonte era o seu foco; ele não fixava as vistas em ninguém. Ao atravessar a
rua, não viu o motoboy vindo em alta
e periculosa velocidade! Não deu outra: o motoboy passou por cima, sem dó, sem
piedade...
E é por isso que a gente nunca ouviu falar de um Rato
de Botas. Tem coisas que não entram nas estatísticas.
domingo, 25 de setembro de 2016
JUVENTUDE MUTANTE
Corria
em desespero, jovem raquítico feito de madeira encantada. Adentrou a floresta e
não olhou mais para trás, seu medo lhe dava gás. Desembestou a correr que nem
doido, quando, quem o seguia, quase o agarrou com a farinha! Jovem-menino não
queria se tornar carne, não. Ser de madeira era melhor. Ele era quase um X-Men.
sábado, 24 de setembro de 2016
EDIFÍCIO JANE
Saltou
do último andar, na esperança vã em poder voar. Estatelado no chão, ainda pôde
ver pés descalços a se entreter. Tarzan civilizado não fora criado por
pássaros.
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
NEON
![]() |
Foto: @brianskerry |
Em meio a cores naturais,
Vejo a ti remoendo ais.
Vejo você triste e sozinho,
Lamentando a falta de carinho.
Não sei de nada a seu respeito;
Não sei nem se você é direito,
Mas sinto o mesmo que você.
Vejo você em mim, eu em você.
Em meio a esta prisão colorida,
Sozinhos estamos e, sem despedida,
Imóveis ficamos de tanto pranto.
Entretanto, se a gente assim se vai,
Qual é o sentido da vida, ora meu pai?!
Um dia, tudo se apaga, até o encanto.
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
ANUNCIAÇÃO
Sentia que não era bem-vinda,
Criatura dita de família.
O desdém era geral,
Todo mundo ali lhe metendo pau.
Porém, a criatura não se constrangia,
Tava nem aí pras picuinhas;
Ficava só ali observando,
Ouvindo despropérios,
Praticamente os ignorando.
Numa pausa da fala brava,
A criatura revidou:
Se abriu toda em amostra —
A Verdade é límpida e causa dor,
Seja você quem for.
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
OGRO INTELIGENTE
O ogro se dizia muito inteligente, tão inteligente que
vivia dizendo a quatro ventos que não precisava de ninguém. Até quando caiu de
cama, o ogro insistiu, vociferou, que sozinho estava melhor. Seu grande
intelecto o salvaria, mesmo sentindo muita dor. Segundo o ogro, seus
conhecimentos seriam suficientes e ele, certamente, sairia sobrevivente. Dito e
feito, o ogro não morreu! Porém, toda manhã ele chora ao sentir na pele o calor
da hora.
terça-feira, 20 de setembro de 2016
JOÃO E O CU DE OURO
Do alto do pé de feijão, João se via num impasse:
descer aquilo tudo com uma gansa gorda no lombo ou ficar por ali mesmo, só no
aguardo do gigante irritado. João pensou, pensou e fez justo aquilo que não se
pensava: deu uma grande gargalhada ao postar uma selfie dele fazendo biquinho ao lado do cu da ave. João só não se
ligou na mão do gigante bem próxima deles...
João perdeu a vida, mas ganhou mais de um milhão de likes.
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
REVISA-TE A TI MESMO
Acho natural essa volta a textos meus de outras épocas.
É como se eu estivesse passando por uma revisão pessoal (ou textual) antes de
engrenar de vez em novos projetos de cunho literário. Sei bem que sou só uma
formiguinha neste vasto universo de pessoas que escrevem e que tentam viver só
disso exclusivamente. É difícil. Mais difícil ainda se você não corre atrás, se
dedica com afinco nesse projeto. Eu, por exemplo, admito que não estou tanto
assim focado nisso. Passado vários anos desde o início neste passa-tempo, ainda
o encaro como um passa-tempo. Já vi que há bons cursos aí em voga pra me profissionalizar
e tal, mas, não sei, ainda acho que é muito cedo pra dar um passo maior em
direção a isso. Até tenho uma coisa aí escrita e um punhado de poesias minhas
reunidas pela metade, porém, parei com isso, não dei prosseguimento, encostei
de vez até ter vontade novamente para tal. Não sei o que há realmente comigo (medo?).
Acho que estou esperando algo que eu nem sei bem o que é. Essa volta aos textos
antigos talvez seja um sinal de alerta. Talvez isso signifique um ponto de
virada. Não sei. Não tenho certeza de nada. Ando vendo por aí que um bom
escritor é sempre muito consciente no que faz, no que escreve. E eu não sou
assim! Ao contrário, muito do que escrevo é meio inconsciente, inconsequente até.
A espontaneidade faz parte do meu estilo, mesmo que tende para o bom ou para o
mau. Admito que há coisas ali pensadas, bem pensadas às vezes. Porém, na
maioria das vezes em que me proponho a escrever, deixo a minha mente seguir o
seu próprio fluxo e fazer suas próprias conexões. Só depois que o “eu” entra
pra por ordem na coisa toda. Vai ver é por isso que meus textos não são tão
visualizados e comentados. Vai ver eu escrevo mal pra caralho mesmo! Ou vai ver
eu não tenho um bom marketing
pessoal, quem sabe? Enfim, tudo isso aí é devaneio, coisa boba. Mais vale
continuar sendo eu mesmo e continuar escrevendo pra solucionar o grande
mistério que é a vida. Escrever ainda é isso, não é?!
sábado, 17 de setembro de 2016
DÉJÀ VU À LA MONTAIGNE
Engraçado...
Após ler tantas notícias dos mais variados assuntos em mais variados veículos
mediáticos, percebo que algo ali não me é estranho e tampouco assim dito novo.
Sinto que ao ler tantas coisas aí impudicamente publicadas algo se repete e não
se disfarça. Sinto um recorrente déjà vu
eclodindo a cada página e a cada tela visualizada. É como se o futuro repetisse
o passado; é como ver um museu de grandes novidades, entende? Parafraseio a
música do Cazuza aqui e isso não é gratuito. Talvez confuso a princípio, mas,
certamente, preocupante. Explico: vendo e lendo tanta coisa por aí posta, sinto
que estou de volta ao começo deste blog; sinto que estou de volta a 2009!
Naquele ano, eu estava desempregado procurando emprego, cursando a pós e nada
mais. Era meados da Segunda Era Lula e a Crise atingia o país em forma de
marolinha. Mesmo assim, foi um ano difícil, havia muito atrito entre os pares e
a incerteza pairava sobre as nossas cabeças — da minha principalmente! Este
blog nasceu justamente nessa época. Eu estava à toa com desejo de produzir, de
me sentir útil e assim vivo. Comecei timidamente a escrever aqui. Postei pouca
coisa naquele ano. Contudo, ao perceber este nosso estado caótico atual, digamos
assim, um texto antigo meu veio a mim de forma natural. Ele é de 2009 e, ao me
lembrar dele e relê-lo, confirmei que aquilo que eu estava percebendo hoje, eu
já havia percebido ontem. A Era do Caos está de volta! Ou vai ver ela só deu mais
uma volta, uma maior. As coisas, hoje em dia, estão mais extremadas,
bipartidas, polarizadas. Noto e anoto aqui a falta de Ordem e Progresso que uns
aí dizem querer cumprir. Só ando vendo o Caos pra tudo que é lado! Da esquerda à
direita, todos centrifugados. Parece que as pessoas estão mais irritadiças,
mais intolerantes e cheias de gracinha. Tá difícil de conviver com essa gente
xiita! Parece até que estão sendo controlados, de remoto e de cordinha. Teimo em
não acreditar que as pessoas são assim de verdade verdadeira, de mente e
coração. Espero realmente que tudo isso seja só verdade inventada pra
sobreviver nesses tempos cáusticos de fachada. As pessoas são mais parecidas do
que pensam pensar. É o que eu acho. Em todo caso, deixo aqui o link do texto
meu que comentei antes. Ao lê-lo, você verá que ele mais se parece deste nosso
tempo presente tratar — assustador.
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
RAPUNZEL E O GIGANTE
Erguendo estruturas sólidas, o gigante de músculos
trincados enfim vislumbrava o seu prêmio a duras penas conquistado: a jovem e
pálida criatura, virgem de nascença até a última lua, tremia-se toda ao ver,
horrorizada, o porte de seu salvador de prisão perpétua.
Queria ela apenas um nude do Paulo Zulu agora.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
BLACK BLOC PENSADOR
Envergado em si mesmo, o Homem de preto pensava:
“Como ser mais produtivo em um mundo cada vez mais
imediatista, mesquinho e tedioso?”.
Pensava o Homem nisso há muito pouco tempo e sem
resposta.
Até que, num estalido reflexivo, ela, a resposta, veio
firme em forma de pujança:
RESET.
“Destruir este mundo imundo e, dos escombros, erguer um
novo pra não perder mais tempo nesse jogo bobo”.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
DIVAGO SEM EGO FRESCO
Pensando cá no que fazer,
Acabo não fazendo nada
Enquanto o tudo
Passa por mim
Sem aviso prévio.
E nesse bacamarte chato
Me entrego
Sem plano algum nos bolsos
Pra sequer comer um ovo.
Ovo?!
D’onde vem esse papo-furado de ovo?
Estarei com fome
Ou isso é coisa de alarmante preocupante
Com a tal crise galopante?
Não sei.
Só sei que a crise é coisa
tipo golpe de estado.
quarta-feira, 20 de julho de 2016
CORRE HOMEM, CORRE
Faz
tempo desde a última vez que escrevi em prosa. A poesia, ultimamente, anda me
requerendo mais atenção. Porém, hoje, vejo-me disposto a escrever em prosa
depois de nove meses (!) ausente nesse estilo. Bora lá então. Não sei você aí,
mas eu aqui ando reparando num troço muito doido que anda rolando pela cidade.
Não é o Pokémon GO, não. Tampouco a falta de educação que impera nas pessoas da
metrópole. O que ando vendo é mais algo físico. Explico: é muito comum, hoje em
dia, ver gente pela rua correndo adoidado pra qualquer lado. O tal do Crossfit
é a moda atlética do momento. Vira e mexe você esbarra num praticante dessa modalidade
aí pela calçada do seu bairro ou do seu trabalho. Contudo, não é desse aí que
eu quero aqui comentar. Não. O causo é: gente normal, isto é, gente de roupa
comum, não vestida de trajes típicos de academia correndo que nem louco aí e
aqui pela rua! Você já viu?! Se não, tenho certeza que um conhecido seu já e há
pouco tempo atrás. Pode perguntar pra qualquer um aí a seu lado. Um ou dois vão
confirmar o meu relato. Imagine: você tá lá de boa pela rua, indo ou voltando
do trampo e, do nada, você vê um cara correndo afoito à sua frente. E esse cara
tá de terno e gravata! Ele tá todo arrumadinho e correndo a toda como se
estivesse na São Silvestre!! Imaginou? Bom, aí você pode pensar que o cara tá
atrasado para uma reunião importante ou tá mesmo é com frio — nada disso! Ultimamente
ando vendo gente assim em qualquer dia da semana — até nos fins de semana — e
em qualquer horário — até mesmo depois do tal horário comercial — e em dias até
mais amenos. Então, qual será o motivo desse alarido? Você certamente se (e me)
perguntará isso. Vamos lá. Vem comigo. Tentaremos cá resolver esse mistério.
Pergunte-se isto: por que um cara, em trajes civis, correria em carreira pela
rua? Pense: será que ele deve algo? Será que ele teme alguém? Não sabemos de
nada disso, mas uma coisa é certa: quem corre se preocupa. E isso é válido pra
qualquer um aí que corre. Quem corre pra ter um bom condicionamento físico,
corre porque se preocupa com a própria saúde. Quem corre se preocupa em não chegar
atrasado ao trabalho. Quem corre da chuva se preocupa em se molhar. Quem corre
da polícia se preocupa em ser pego após o flagrante num assalto e por aí vai...
Deu pra entender, né? Agora, e quem corre aí que nem louco? O que preocupa esse
ser? Quem ou o que lhe faz agir assim tão desesperadamente ao ponto de correr,
desembestado, pela rua? Penso. Penso. E uma palavra só me parece justificar
tudo isso: mulher. Sim! E ainda faço um complemento semântico sugestivo: medo
da mulher. Em época de empoderamento feminino, que aqui soa feio feito um
pleonasmo, mas é, na verdade, só um friso, o homem, boboca por natureza, viu-se
reles só mais um diante da força monumental da fêmea que, por ele, fez aliança
eterna, ou seja, o homem de hoje se viu no limiar da sua própria ruína quando a
mulher descobriu que tinha mais o que fazer do que depender de um babaca
escroto que não sabe respeitá-la como mulher. Entendeu agora, cara? Não?! Peraí
então. Deixe-me ser mais direto: o fulaninho lá que corre, corre porque tem
horário certo pra chegar em casa. E ai dele se ele não chegar no horário em
casa, pois, sua mulher, sua única deusa, sabe bem o que fazer com um cabra que
não respeita seu coração. Captou a mensagem?
quinta-feira, 14 de julho de 2016
Aqui se fez um poeta
Começou assim por acaso,
Tentando pôr de lado
O tudo antes atrasado
Para não ficar de caso.
De repente, virou um tarado
Por querer dar uma de Tasso,
Mas, na verdade, queria Picasso —
Nem sempre com bom resultado...
A ideia era matar o tempo,
Se entreter torto e a direito
Pra não ficar só de lamento.
E foi assim nesse campo,
Do despretensioso ao de esteta,
Que o aqui se fez um poeta.
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